6 de fevereiro de 2014

A Rua do Bode, dos Judeus, da Cruz e ... do Bom Jesus

Rua do Bom Jesus. Cromolitografia de L. Krauss, 1878
Sendo a rua mais antiga da cidade, a história da Rua dos Judeus, a atual Rua do Bom Jesus, se confunde com a história do Recife.

Como já mencionamos em alguns posts deste blog, o Recife era desde meados do século XVI um povoado, um arraial localizado na ponta do Istmo ao sul de Olinda, dotada de armazéns, fazendo as vezes de zona portuária daquela cidade, sendo que em 1630 tinha apenas um simples arruado duplo.

Frequentemente esta localidade era referida nos documentos e mapas holandeses como – a aldeia, ou dorp – Povo. Sua paisagem nesta época está registrada na gravura abaixo que retrata a conquista holandesa, e revela o casario em maior parte feito de pedra e cercado por uma paliçada do lado do mar.
De Stadt Olinda de Pharnambuco. Estampa e folheto holandeses, do Maritiem Museum, Rotterdam. 1630
1. Forte de São Jorge; 2. Obras portuguesas iniciadas do futuro Forte do Brum; 3. Forte de São Francisco da Barra; 4. Casario do povoado dos arrecifes
A planta abaixo do mesmo período, publicada por João Teixeira Albernaz I, dá conta de pelo menos uma rua constituída no areal do Istmo, além de alguns quarteirões dispersos e a ermida do Corpo Santo.
ALBERNAZ, João Teixeira, I. Carta “Porto e Barra de Pernambuco” - 1630
1. Arrecifes; 2. Entrada da Barra, conhecida como Poço; 3. Atracadouro; 4. Istmo; 5. Convento Franciscano, casario e obras de fortificação holandesa na Ilha de Antônio Vaz (atual Santo Antônio); 6. Povoado dos Arrecifes; 6.1 Armazéns incendiados pelos luso-brasileiros; 6.2. Ermida do Corpo Santo.
Com a invasão de Pernambuco pelas forças armadas da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC) e o consequente domínio neerlandês, período este compreendido entre 1630 e 1654, houve uma mudança radical no ritmo de desenvolvimento urbanístico do povoado e dos arredores, tanto do ponto de vista militar como civil.

No campo militar, uma das primeiras medidas dos holandeses foi a fortificação do perímetro da vila dos arrecifes para protegê-la contra invasões e contra-ataques. Mas a fortificação também tinha o objetivo de defendê-la contra as marés. Já nos primeiros meses de conquista ficava evidente a vulnerabilidade do areal do Istmo diante da água circundante. Uma carta do governador holandês Diederick Waerdenburch aos Estados Gerais das Províncias Unidas, datada de julho de 1630, traz o primeiro testemunho neerlandês sobre o assunto:
“A aldeia do Recife, onde os armazéns dos portugueses estavam situados e onde alguns se acham ainda de pé e onde mais tarde se construirão outros, como esperamos e se Deus permitir, deverá ser fortificada igualmente com alvenaria em todo o redor, para garanti-la contra a ação da água: provisoriamente fi-la prover de boa e forte muralha do lado de Antonio Vaaz, e, além disso, de estacadas na água em volta, exteriormente.”
Esta é a primeira notícia do trabalho de definição de um contorno firme na povoação do Recife, através de muralha de contenção da água. Ao cabo de 24 anos de domínio, os batavos legaram uma cidade efetivamente contornada por uma parede maciça.

Já no campo civil, um dos inúmeros negócios desenvolvidos pela WIC neste período foi o imobiliário. As receitas eram obtidas através do aluguel, e também da venda de terrenos. A exploração imobiliária iniciada foi tanta que logo a tarefa de luta contra as águas, principalmente por meio de aterros sucessivos e pequenos diques de contenção, coube aos particulares que se mostraram interessados em investimento imobiliário. Segundo a documentação oficial, a maior parte dos imigrantes era pobre e sem recursos para investir em algo, ficando abarrotados nos armazéns da Companhia no Recife e sustentadas pela mesma. Houve, por outro lado, uma quantidade razoável de pessoas que passaram a investir em terrenos e imóveis. Gonsalves de Mello descreve este momento de surto de construções:
"Particulares aqui no Recife estando dispostos a construir casas (“om te timmeren ende huijsen te bouwen”) nas quais possam morar com maior comodidade e a fim de devolver, com menores inconvenientes para a Companhia as suas casas e armazéns;... para esse efeito foram marcados os trechos não construídos que os particulares tenham apontado e também foram indicados alguns outros." (Nótula diária*, 31 de outubro de 1635)
(*) Atas que registravam o dia-a-dia burocrático da mais alta instância administrativa e jurídica da Nova Holanda, inicialmente denominada de Alto Conselho.

Não se tem detalhes precisos sobre cada lote construído e como se processou o processo de edificação das ruas do Recife neste período inicial. Mas ao comparar-se a carta de 1630 de Albernaz e a planta chamada Insula Antonij Vaazij de 1637 (a seguir), tem-se a evidente constatação de que houve um número razoável de construções.
Insula Antonij Vaazij, de Cornelis Bastiaensz Golijath - 1637
Fonte: livro de Barlaeus publicado em 1647
1. Arrecifes; 2. Entrada da barra (Poço); 3. Istmo; 4. Rio Beberibe; 5. Forte do Brum; 6. Castelo de São Jorge; 7. Recife; 7.1 “Porta da Terra” e baluartes da entrada norte do Recife; 7.2 Espaço vazio onde antes ficavam os armazéns incendiados pelos luso-brasileiros em 1630; 8. Fortificações e edifícios em Antônio Vaz; 8.1 Casario português; 8.2 Casa Portuguesa: em 1637 era a Residência de Nassau; 8.3 “Hortus”; 8.4. Forte Ernesto; 8.5 “Groot kwartier”, Praça-forte de Antônio Vaz; 9. Forte das Cinco Pontas; 10. Braço de rio que adentrava a ilha de Antônio Vaz
Entretanto, os armazéns incendiados pelos luso-brasileiros durante a resistência, segundo o cronista da WIC, Johannes de Laet, ficaram arrasados. Tais armazéns eram situados na parte mais setentrional do arruado do Istmo (7.2) e, portanto, pode explicar o vazio encontrado na planta acima entre a porta construída no Istmo ao norte (7.1) e o início do arruado. Observando este vazio e consultando a escala do mapa podemos ver que trata-se de um espaço de cerca de 100 metros de comprimento. Esta área vazia veio a ser depois o local conhecido por Rua do Bode (Bockestraet) e pouco tempo depois foi rebatizada com o nome de Rua dos Judeus.

Com o domínio holandês, muitos judeus sefarditas vieram se estabelecer principalmente no povoado, mas também na Cidade Maurícia (Ilha de Antônio Vaz, atual bairro de Santo Antônio), e se tornaram prósperos comerciantes. Eles chegavam ao Recife e deparavam-se com a grande competição por terrenos e casas que havia na cidade.

Dentre os judeus que imigraram neste período estava Duarte Saraiva, cujo nome judeu era David Sênior Coronel, um importante comerciante judeu de origem portuguesa que já havia vivido em Pernambuco, provavelmente no final do século XVI, tendo retornado para Amsterdam. Em 1635 aparece a primeira referência documental a ele, efetuando a compra de um terreno que seria o germe da Rua dos Judeus. O documento diz:
“Visto que os limites do Recife de Olinda são muito pequenos para acomodar os comerciantes de acordo com suas necessidades, assim foi decidido pelo Alto Conselho, aqui no Brasil, a venda de um pedaço de terra medindo 80 pés de comprimento e 60 de largura, situado fora do portão onde está situada a sentinela do “Bokkenwacht”, ao senhor Duarte Saraiva, comerciante livre, nesta cidade, pela soma de 450 reais de 8, para que ele construa uma casa da maneira que ele desejar e que ele possa vender este terreno ou a casa para ganho próprio.”
A Bokkenwacht, ou “guarda do Bode” mencionada no documento acima, é a Het Wacht Huys (a Casa de Guarda) indicada na gravura abaixo pela letra "E".

T'RECIF de PERNAMBVCO' ca. 1630
fonte: Ilustração do livro de Johannes de Laet - 1644
Comparando-se os mapas de 1630 com o de 1637, percebe-se que os portões ao norte mudaram sua posição, ficando bem mais adiantados. Pelos registros holandeses, em finais de 1635 já havia a intenção de se aumentar o perímetro fortificado do Recife, englobando a área ao norte da bateria, entre esta e o cemitério, e acrescentando mais outros 100 metros até os novos baluartes que compunham a Porta da Terra, no limite norte do Recife, porta esta que dava acesso à vila de Olinda pelo Istmo. Podemos deduzir, portanto, que esse primeiro lote de Duarte Saraiva era localizado junto à Porta de Terra. Graças às construções ali realizadas, neste e em outros lotes que vieram a ser comprados pelos comerciantes mais proeminentes da comunidade, fez surgir em 1636 a Rua dos Judeus (Jodenstraat).

É interessante observar que os terrenos das casas do lado oeste da rua estavam embaixo d’água nos mapas de 1630 e 1631. A escavação do prédio que abrigou a sinagoga Kahal Zur Israel, realizada pela equipe do Laboratório de Arqueologia da UFPE entre 1999 e 2000, localizou “várias linhas de alicerces paralelos ao rio, que demonstram os aterros sucessivos, ampliando as quadras da Rua dos Judeus”.

A propósito, na casa de David Sênior Coronel funcionou antes de 1636 uma primitiva sinagoga, depois estabelecida de forma definitiva com o nome de Kahal Kadosh Zur Israel (Santa Comunidade o Rochedo de Israel) de 1636 até 1654, tornando-se assim a primeira sinagoga das américas. A escavação acima mencionada revelou também a primitiva muralha do núcleo urbano e a piscina de banho ritual (micveb ou micveh) da sinagoga.

Em um curto espaço de tempo os membros da comunidade judaica tomaram conta do comércio, particularmente do açúcar e do tabaco, chegando uma pequena parte a possuir engenhos e a dedicar-se à cobrança de impostos e ao empréstimo de dinheiro. Alguns deles dedicavam-se ao comércio de escravos que, trazidos pelos barcos da Companhia da Costa da África, eram arrematados em leilões e vendidos a prazo aos senhores de engenho.

Na Rua dos Judeus funcionava um mercado de escravos, Merckt opt Jodesnstraat, que Zacharias Wagener denominou de Slavenmarkt e o retratou na sua série de aquarelas, pintadas no Recife entre 1634 e 1641.
Rua dos Judeus - Slavenmarkt, de Zacharias Wagener - 1641
Segundo o Inventário dos Prédios datado de 1654, o povoado dos arrecifes possuía 290 imóveis residenciais, dos quais 250 eram sobrados e 40 térreos. O número de casas pertencentes a israelitas era de aproximadamente 57 unidades, a maior parte delas na Rua dos Judeus.

O formato da rua, que pode ser observado nas plantas neerlandesas e mantido até hoje, dá a ela uma reentrância que forma um grande largo em sua área central. Este largo é relacionado tanto como “praça dos judeus” como um mercado. Notar na figura abaixo a Rua dos Judeus identificada pelo número "4" e a praça/largo pelo número "6".


Em fins de 1653, um bloqueio marítimo ao porto do Recife e um bem sucedido ataque terrestre realizados pelos luso-brasileiros, fez com que o governo neerlandês se rendesse. Nos acordos negociados para a capitulação, assinados em 27 de janeiro de 1654, prevaleceu a diplomacia, e os judeus foram inclusos como gozadores de todos os itens. Foi-lhes dado prazo de três meses para liquidarem seus negócios e partirem do Brasil.

Após os luso-brasileiros retomarem o controle, a Rua dos Judeus teve seu nome mudado para Rua da Cruz, assim como a Porta da Terra foi rebatizada de Porta do Bom Jesus. Existem ainda indicações de que nesse período ela também teve o nome de Rua dos Mercadores, porém apenas no trecho entre a Rua da Cadeia (atual Marquês de Olinda) e a Siculé (atual Barbosa Lima).

Na segunda metade do século XVII, a cidade cresceu mais lentamente do que vinha experimentando no período de dominação holandesa, mas no Povo dos Arrecifes a Rua da Cruz ainda mantinha-se como fio principal da trama urbana, ligando-se à Rua da Cadeia e recebendo os fluxos dos que se dirigiam para a ponte do Recife.

Ao longo dos séculos XVIII e XIX, o Povo dos Arrecifes - que se transformara no Bairro São Pedro Gonçalves com a elevação da Vila Santo Antônio do Recife à categoria de Cidade em 1823 - consolidou sua urbanização com os novos aterros que aumentaram ainda mais a área exímia do antigo istmo. A cidade do Recife já era, então, no início do século XIX, o centro econômico e político da Província, vindo a ser a sua Capital em 1827. À época, o Bairro do Recife, como passou a ser chamado posteriormente o Bairro São Pedro Gonçalves, continuava a desempenhar sua funções portuárias, em meio ao mesmo panorama cotidiano de prostituição e comércio de escravos, sendo que a Rua da Cruz também continuava em destaque como epicentro de todo este movimento.
Rua da Cruz tendo ao fundo a Porta ou Arco do Bom Jesus - Maria Graham - 1821
Em 1850 ocorreu uma forte intervenção na rua: a Porta ou Arco do Bom Jesus que ficava no seu extremo norte foi demolida “para dar espaço às construções do Arsenal de Marinha e desimpedir a comunicação da Rua da Cruz com as ruas de São Jorge e do Pilar”. Na gravura abaixo podemos ver a Rua da Cruz à partir da área do arsenal, atualmente Praça do Arsenal, já sem o arco do Bom Jesus e seus baluartes. Ao fundo disntingue-se o campanário da Igreja do Corpo Santo, demolida em 1914.

Rua da Cruz - Litografia de Emil Bauch - 1852
Nesta outra gravura de 1859, podemos observar a Rua da Cruz tendo no meio uma pequena praça onde existia o primeiro chafariz de água encanada do Recife, inaugurado em maio de 1846. Ao fundo é possível notar a Torre Malakoff, que era o Portal Monumental do Arsenal de Marinha, inaugurada em 1855.

Rua da Cruz - 1859
Em 1870 foi aprovado pelo Conselho Municipal a troca do nome de Rua da Cruz para Rua do Bom Jesus, proposto pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, para lembrar que lá existia, sobre um arco de pedra, o arco e a capela do Bom Jesus.
Rua do Bom Jesus - 1890
Na Rua do Bom Jesus do século XIX funcionaram a tradicional Botija Francesa, fundada em 1821, o Café Chileno, ponto de reunião de pessoas importantes, e o Hotel e Restaurante Europeu, que fez grande sucesso por muitos anos.

Cartão postal do início do século XX
Nos anos de 1910 e 1920 o Bairro do Recife sofreu uma profunda reforma, na qual mais de 400 imóveis foram derrubados para dar lugar às avenidas e ruas mais largas e prédios mais modernos seguindo o estilo neoclássico francês.
"As antigas ruas, becos e vielas deram lugar a modernas e largas avenidas convergentes à praça que beira o novo cais. Quadras originais foram demolidas, com seus sobrados magros, característicos do período colonial, dando lugar aos novos edifícios de gosto eclético que, muitas vezes, ocupavam praticamente toda um a nova quadra. Estas edificações, com gabarito quase uniforme, margeavam as novas avenidas e ruas numa clara referência ao traçado de Haussmann para a Paris de 1850" (MADUREIRA, 1996). 
Entretanto, a rua do Bom Jesus ficou fora desta reforma, mantendo assim o seu traçado original. Ainda bem!
Rua do Bom Jesus - 1920
Rua do Bom Jesus - 1940
Juntamente com todo o Bairro do Recife, a Rua do Bom Jesus sofreu uma forte degradação à partir dos anos 40, com o deslocamento de várias atividades comerciais para outros bairros, assim como o de famílias que foram morar em bairros como Espinheiro, Torre, Madalena, etc..., a principal atividade remanescente era a portuária, ao redor da qual aumentou o número de prostíbulos, cabarés e cortiços, embora a rua mantivesse algum comércio, especialmente de atacados. Os belos sobrados se deterioraram e a rua - e o bairro como um todo - adquiriu um aspecto sombrio e desprovido de beleza.

Um projeto de revitalização do Bairro do Recife nos anos 90 restaurou o casario existente na área, ressaltando os detalhes das fachadas em estilo eclético, transformando a Rua do Bom Jesus e as ruas dos arredores em local de encontro da população recifense e de turistas.

Rua do Bom Jesus - Atualmente
Há de se ressaltar que ao longo de quase quatro séculos de história da Rua do Bom Jesus, os seus sobrados originalmente construídos pelos judeus tiveram nos séculos XVIII e XIX as fachadas reformadas, assumindo um estilo colonial português, mas na sua essência mantiveram o traçado (já mencionado aqui) e casario originais.

Fontes:
  • Vicus Judæorum: Os judeus e o espaço urbano do Recife neerlandês (1630-1654). BREDA, Daniel Oliveira
  • Fundação Joaquim Nabuco
  • Wikipedia

6 comentários:

  1. Ola Sr Luna, sera que poderiamos nos comunicar por email? Estou escrevendo um livro sobre os judeus de recife de 1654, gostaria de fazer umas perguntas sobre seus mapas e localizacoes... Meu email eh simpledifference@gmail.com

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  2. Parabéns pelo excelente artigo! Para fins de pesquisa histórica, década de 1820, busco o local do endereço da Rua da Cruz, nº 4. Fiquei na dúvida se a numeração da Rua da Cruz começava pelo Norte (onde entendo ficava o Arco do Bom Jesus) ou se começava pelo Sul?

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  3. Parabéns pelo excelente artigo! Para fins de pesquisa histórica, década de 1820, busco o local do endereço da Rua da Cruz, nº 4. Fiquei na dúvida se a numeração da Rua da Cruz começava pelo Norte (onde entendo ficava o Arco do Bom Jesus) ou se começava pelo Sul?
    Pedro Pradez
    pedro.pradez@gmail.com

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  4. Sou fotógrafo e digo com propriedade que já havia fotografado a Rua do Bom Jesus sob vários ângulo. Com o título de 3ª rua mais bonita do mundo, entendo que deveremos revitalizar e preservar essa rua.

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