Forte de São Francisco - Século XIX |
Conforme já falamos aqui no blog, no final do século XVI e início do século XVII, buscou-se melhor defender os arrecifes pois estes abrigavam o porto, o ancoradouro natural por onde era escoada a produção de açúcar da Capitania de Pernambuco. Com este objetivo foram construídos os fortes de São Jorge, mais antigo e construído no istmo próximo à barra, e o de São Francisco construído nos arrecifes, à entrada da barra. Uma posição indiscutivelmente estratégica, guardando a entrada do porto.
Sua construção começou em 1612 e ficou sob a responsabilidade do Engenheiro-mor e dirigente das obras de fortificação do Brasil, Francisco de Frias da Mesquita (1603-1634), com projeto de Tibúrcio Espanhoch. De pequenas proporções, tinha forma eneagonal de lados irregulares variando de 5,94m a 6,60m com todos os seus ângulos salientes. Sua diagonal maior media 16,94m. Os parapeitos mediam 1,10m de espessura por 0,88m de altura. Suas dependências, no entanto, quartéis, depósito e mesmo o paiol eram muito escuros, abafados e úmidos. O contato direto com o mar, sua forma fechada, imprimiam tais condições. A ação do mar também se fazia sentir sobre as pedras, sobretudo as da base, e frequentemente exigia reparos.
Foi artilhado originalmente com seis peças de bronze. Deve ter sido terminado por volta de 1614, uma vez "que depois de haver acabado com grande louvor a Fortaleza da Laje do Recife, [Francisco da Mesquita] se ofereceu para acompanhar Jerônimo de Albuquerque [contra os franceses em São Luís]."
Já figurava no mapa abaixo feito por João Teixeira Albernaz I, identificado como "D - O forte novo da laje do porto".
'PRESPECTIVA. DO RESSIFE, E VILLA, DE OLINDA', João Texeira Albernaz I - 1616 Fonte: Livro que dá Razão do Estado do Brazil, c. 1616. Biblioteca Pública Municipal do Porto |
Podemos vê-lo retratado também nas gravuras da época, abaixo.
"DIE STAT OLINDA DE PHERNAMBVCO" - Gravura retratando a invasão holandesa em 1630 |
1) Forte de São Francisco, abrindo fogo contra a armada holandesa; 2) Arrecifes; 3) Forte de São Jorge; 4) Povoado dos Arrecifes, núcleo urbano original do Recife, com os armazéns de açúcar em chamas, por ordem de Matias de Albuquerque, governador da província.
Estampa e folheto holandeses, do Maritiem Museum, Rotterdam. 1630 |
1) Forte de São Jorge; 2) Obras portuguesas iniciadas do futuro Forte do Brum; 3) Forte de São Francisco; 4) Povoado dos ArrecifesEmbora apresentamos apenas estas duas gravuras, o Forte de São Francisco figura de muitos outros mapas e representações da época, principalmente sob o nome "Castelo do Mar" (Water Casteel).
Uma vez ocupado pelos holandeses, o Forte de São Francisco passou a integrar o sistema de defesa holandês do Recife. Em 1636 o forte era descrito como sendo construído em pedras, elevado, de forma redonda, sem flancos. Contava à época com 7 peças de ferro, todas espanholas, sendo: 1 de 24 libras, 1 de 20 libras. 2 de l2 libras, 1 de 18 libras e 2 de10 libras. Seus disparos eram capazes de alcançar o Recife, o Castelo de São Jorge e o Forte do Brum.
Sobre esta estrutura, Maurício de Nassau, no "Breve Discurso" de 14 de Janeiro de 1638, sob o tópico "Fortificações", reporta:
"Defronte do Castelo de São Jorge, sobre o arrecife de pedra, no mar e na entrada da barra, fica um outro belo castelo de pedra, por nós denominado Castelo do mar. Este tem sido um tanto danificado pelo mar, que, batendo nele com toda a força e em todas as marés, tem arrancado na parte inferior algumas pedras. Tratamos com o mestre, que foi o seu primitivo construtor, para que, com o auxílio de pedreiros portugueses, tape o rombo e o segure contra o mar, o que é indispensável para prevenir futuros danos."De fato, a estrutura recebeu obras de recuperação em 1638, a cargo dos Engenheiros neerlandeses Vasser e Castell.
Outra referência segura é o "Relatório sobre o estado das Capitanias conquistadas no Brasil", de autoria de Adriaen van der Dussen, datado de 4 de Abril de 1640, que complementa:
"Em frente ao Castelo de Terra situa-se, do lado do mar, na entrada da barra, sobre o recife de pedra, o Castelo do Mar, construído com pedras, elevado, sem flancos; é de forma arredondada, octogonal. Ali há 7 peças de bronze, todas espanholas, a saber: 1 de 24 libras, 1 de 20 lb, 2 de 12 lb, 1 de 18 lb e 2 de 10 [lb]; domina a barra e todo o porto e o istmo que lhe fica em frente, podendo alcançar com seus tiros o Recife, o Castelo de São Jorge, o Forte do Brum e o reduto."O francês MOREAU (1979) faz o seguinte relato acerca do período entre 1646-1648:
"O Recife está construido (...) numa das orlas desta passagem [abertura no costão do recife de pedra], da largura de cem passos e sobre a própria rocha, do lado meridional. Há um forte de pedra, redondo, de cem passos de círculo, que o mar banha de todos os lados, munido de vinte grandes peças de ferro fundido e de uma guarnição ordinária de cinquenta homens, e do qual os navios que chegam devem dar-se conta para não se aproximar muito; ancoram a meia légua dele e depois vêm dar-se a conhecer nos escaleres com as cartas trazidas para Recife; isto feito, envia-se uma deputação a estes navios a fim de examiná-los, antes de conceder-lhes entrada no porto. (...)"O Forte São Francisco foi evacuado pelas forças neerlandeses quando da Capitulação do Campo do Taborda em 1654, passando a ser chamado de Forte da Barra, e também pelo nome popular de Forte do Picão, referência às pedras submersas que ficavam ali perto.
Após várias pesquisas, não encontrei referências ao forte entre a segunda metade do século XVII e século XVIII, exceto em mapas como este abaixo:
Planta genográfica da Villa de S. Antonio do Recife de Pernambuco - 1763 Forte do Mar identificado pelo número "3" |
Plantas do Forte de São Francisco ou Forte do Mar de - Projeto de reconstrução - 1808 Fonte: Departamento de Engenharia e Construção do Exército Brasileiro |
Em 1833, por ordem do Governo ao Inspetor do Arsenal de Marinha, vários canhões de ferro dos antigos fortes, dentre eles o de São Francisco, foram colocados nos arrecifes para amarração de navios.
Peça de artilharia usada para amarração de embarcações |
A fotografia abaixo, a mais antiga do Recife, tirada à partir do farol, vê-se o Forte em primeiro plano com o porto, navios ancorados e o casario do Bairro do Recife ao fundo.
Primeira fotografia conhecida do Recife - Charles de Forest Fredericks - 1851 |
Forte do Picão - Marc Ferrez - 1875 |
Forte do Picão à direita e o Farol à esquerda Cartão postal datado de 1903 |
Forte do Picão - Gravura de 1905 Fonte: Acervo Fundaj |
Ruínas do Forte do Picão - Início do século XX |
Como última curiosidade, o Forte do Picão é um dos elementos que compõe o brasão da Cidade do Recife.
Fontes:
- Revista trimensal do Instituto Histórico, Geográphico e Estnográphico do Brazil, Volume 25, 1883, Memória sobre o Forte do Mar em Pernambuco, Antônio Bernadino Pereira do Lago
- Fortes de Pernambuco, imagens do passado e do presente, Albuquerque, Matos e Lucena, Veleda
- Fundação Joaquim Nabuco
Muito interessante.... uma pena que tenha sido destruído.
ResponderExcluirExcelente pesquisa de imagens.
Pedro
Parabéns pelo blog.
ResponderExcluirobrigada pelo conteudo!
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