Vista aérea do canal que separa o Istmo de Olinda e Recife |
O Istmo de Olinda e Recife era uma faixa de terra estreita, com largura média de 80m, que ligava o porto do Recife à vila de Olinda. Durante todo o século XVI o Istmo manteve suas características naturais de faixa de terra arenosa de forma longitudinal e estreita, pontuado por pouquíssimos elementos construídos, banhados pelas águas do mar ao leste e pelas águas do rio Beberibe a oeste, com vegetação em sua margem ribeirinha e conexão ao sul com a vila do Recife e ao norte com a vila de Olinda.
Uma análise iconográfica do Istmo durante o século XVII permite-nos observar que enquanto os holandeses construíam um sistema de defesa, edificando novas fortificações, as estruturas do entorno mantinham-se inalteradas: os arrecifes, as barras, os ancoradouros, o rio Beberibe.
No século XVIII o "Plano da villa do Recife de Pernãbuco e parte da costa athe a ponta da cid. d'Olinda", de 1776, de autor não identificado, é possível ver no primeiro plano a linha de arrecifes, sendo o trecho submerso o não colorido. O desenho traz indícios de que a vila do Recife permaneceu se expandindo em direção ao Istmo ou para o "Fora de Portas". O Forte do Brum, normalmente representado distante da vila, nesse mapa já está sendo alcançado por algumas construções. As construções no Istmo que ainda se encontram bem isoladas são a Cruz do Patrão e o Forte do Buraco, mais próximas de Olinda.
Plano da villa do Recife de Pernãbuco e parte da costa athe a ponta da cid. d'Olinda", de 1776 |
Plan of the Port of Pernambuco - Henry Koster - 1816 |
Ao observar esta Planta da Cidade do Recife de 1906, de Douglas Fox e H. Michell Whitley, é possível notar que a península do Recife recebera sucessivos aterros (ver infográfico neste post) e já apresentava uma densa ocupação no trecho entre o antigo Arco do Bom Jesus e o Forte do Brum. Ao norte do Forte do Brum, entretanto, o Istmo ainda apresenta um forte caráter natural.
Planta da Cidade do Recife, 1906. Fonte: Arquivo Público Estadual de Pernambuco |
Na fotografia abaixo de autoria de Bocage, 1910, vê-se o molhe sendo construído nas proximidades do Forte do Buraco, com os trens da via férrea.
Construção do molhe de Olinda - 1910 |
Em função da construção deste molhe houveram alterações nas vagas marítimas em seu entorno. Como consequência, em meados de 1912 o mar causou uma ruptura no Istmo abrindo uma enorme fenda, rompendo inclusive a via férrea construída para execução da obra. Assim, parte do Istmo foi transformado na atual Ilha do Recife, separando-a de Olinda
Na planta a seguir, provavelmente de autoria do engenheiro Alfredo Lisboa, naquele momento responsável pelas obras do Porto do Recife, aparece o projeto de construção do “enrocamento de proteção do Istmo de Olinda”, para cobrir as funções do trecho rompido, dado que tal rompimento prejudicou a comunicação com a obra do molhe de Olinda, feita por via férrea, atrasando a obra em dois anos.
Planta baixa do projeto de construção do “enrocamento de proteção do Istmo de Olinda” Fonte: Arquivo Público Estadual de Pernambuco |
Segundo Alfredo Lisboa (1915, p. 23), o rompimento do Istmo acima descrito “veio originar a idéia de converter a bacia do Beberibe [...] em uma vasta doca de comércio, em comunicação direta com o anteporto”. Nesse caso haveria, ainda segundo Lisboa, a necessidade de “remover, em parte ou no todo, o enrocamento de proteção exterior ao Istmo de Olinda.”. Em outras palavras, depois de retirado, o enrocamento daria lugar a um canal de comunicação do anteporto (entre os arrecifes e o Istmo) com a bacia do rio Beberibe.
Na planta abaixo, datada de 1932, podemos ver que ainda não havia sido realizada a ruptura definitiva, conservando-se o "enrocamento" construído após o acidente.
Planta do Recife e arredores - 1932 Fonte: Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano |
Fontes:
- Cabral, Renata Campello e Pontual, Virgínia Pontual, Transformações do território e representações cartográficas: o Istmo de Olinda e Recife, Brasil, 2011
- Lubambo, Cátia, Bairro do Recife: Entre o Corpo Santo e o Marco Zero, 1991
Amei... Por favor, continue esse trabalho de resgate, se eu puder ajudar adoraria!
ResponderExcluirMuito boa a explicação.Isso deveria ser ensinado às nossas crianças no Ensino Fundamental para conhecerem melhor a Cidade em que nasceram!!
ResponderExcluirrosa em 11 de setembro de 2019. estou procurando informações sobre as ilhas que compõem a cidade. Nisso encontrei esse material. Amei!
ResponderExcluirEu como historiador e capoeirista amo conhecer histórias de minha cidade
ResponderExcluirQue grata surpresa achar esse blog!
ResponderExcluirFinalmente, qual é a divisa de Recife e Olinda?
Obrigado!
O mapa do Recife, com todos os seus limites:
Excluirhttps://www.google.com/maps/place/Recife,+PE/@-8.0168802,-34.9949677,11.48z/data=!4m6!3m5!1s0x7ab196f94e5408b:0xe5800ef782bde3a6!8m2!3d-8.0578381!4d-34.8828969!16s%2Fg%2F1pxyctxrg
Desde criança eu soube que anteriormente houvera comunicação da "Ilha do Recife e Olinda" - E vivia desejoso de saber como correra essa separação.
ResponderExcluirJá li, até que nesse istmo havia rua e residências, e até uma Capela Católica.
Há algum registro dessas construções?
Fiquei Maravilhado com essa postagem, um conhecimento histórico muito rico e que não é ensinado em nossas escolas.
ResponderExcluirFiquei sabendo que existia a praia do Brum, e com o rompimento do istmo se acabou.
o canal e tao bem feito pra separar fisicamente recife de olinda que tinha certeza que era planejado nao tem como o mar invadir e ficar tao antropicamente perfeito nao sabia que tinha favela no lado olindense do istmo redondezas
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