20 de janeiro de 2014

Forte Madame Bruyne ou Forte do Buraco

Em segundo plano o Forte Madame Bruyne ou Forte do Buraco - Século XIX
O Forte de Madame Bruyne ou Forte do Buraco, situado ao norte do Porto do Recife, é um ilustre desconhecido de muita gente.

Localizava-se no Istmo de Olinda e Recife, ao norte do Forte de São João Batista do Brum, distante meia milha deste. Atualmente suas ruínas ficam por trás da Escola de Aprendizes Marinheiros, ao norte da última barra do Porto do Recife, Praia do Istmo ou Ponta Del Chifre.

Originalmente, segundo os historiadores, era apenas um pequena fortificação denominada Guarita de João Albuquerque (SOUZA, 1885), estando situada de frente para a Barra Grande e em posição estratégica de defesa.

Entre 1630 e 1632 as forças holandeses ergueram no lugar da guarita um forte como um reduto de campanha para a defesa avançada do norte do Recife. Em 25 de junho de 1631 recebeu a denominação de Forte Madame Bruyne (Domina Bruninis) em homenagem à esposa de Johan Bruyne, integrante do Conselho de comissários que governou o Brasil holandês. A sua planta apresentava o formato de um polígono quadrangular regular, com quatro meio-baluartes nos vértices.

Sobre esta estrutura, Maurício de Nassau, no "Breve Discurso" de 14 de Janeiro de 1638, sob o tópico "Fortificações", informa:
"A tiro de mosquete deste hornaveque [do forte do Brum] fica um reduto que serve de guarda-avançada."
O "Relatório sobre o estado das Capitanias conquistadas no Brasil", de autoria de Adriaen van der Dussen, datado de 4 de Abril de 1640, complementa:
"[...] a um tiro longo de mosquete daí [do forte do Brum], está situado um reduto chamado de Madame de Bruyne, com uma boa paliçada em volta e no qual estão 2 peçazinhas forjadas, de bronze, de 6 libras. O fortezinho, que fica ao sul da cidade de Olinda está sendo reparado, de modo a comportar 15 a 20 homens de guarnição, com 4 a 5 canhões de ferro, de modo a que sirva de refúgio para a burguesia de Olinda no caso de ataque de campanhistas."
O Forte Madame Bruyne fazia parte do sistema fortificado de defesa da cidade, considerado um dos melhores do século XVII. Formavam este sistema, entre outros, o Forte do Brum e o Forte das Cinco Pontas.

Ele figura nos mapas de Frans Post (1612-1680) da Ilha de Antônio Vaz (1637), e de Mauritiopolis (1645. Biblioteca Nacional do Brasil), em pinturas de Gillis Petters e no mapa abaixo, de 1644:

A Cidade Maurícia em 1644, de Cornelis Golijath (in: BARLÉU, Gaspar. Amsterdã, 1647)
Ver a indicação da localização do Forte Madame Bruyne
Obra de Gillis Petters, 1639 - Notar o Forte do Buraco próximo ao do Brum
Quando do assalto final ao Recife, em Janeiro de 1654, esta estrutura foi abandonada pelas forças neerlandesas a 17 de Janeiro.

As ruínas que hoje conhecemos datam do século XVIII, de acordo com portaria do governador, expedida ao provedor da fazenda real, em 17 de novembro de 1711, ordenando que mandasse por em praça a obra da reedificação do Forte do Buraco, que foi executada em alvenaria de pedra, com forma irregular de três faces retas e uma abaluartada, assumindo uma forma de trapézio. Neste período:
"[...] estava guarnecido por um Capitão, um Sargento, um Condestável (chefe de artilheiros), infantes destacados dos Terços do Recife, dez fuzileiros e dois artilheiros, e artilhado com vinte e duas peças, três de bronze e dezenove de ferro." (BARRETTO, 1958) 
Figura na coleção de "Mapas de vários regimentos da Capitania de Pernambuco", 1763, sob o título Forte de Santo Antônio dos Coqueiros do Buraco, mas desde a reconquista luso-brasileira era conhecido simplesmente como Forte do Buraco, cujo termo foi tomado por ficar fronteiriço ao lugar chamado Buraco do Santiago, hoje Tacaruna.

No século XIX, sofreu reparos em 1863, no contexto da Questão Christie (1862-1865). Poucos anos depois, em 1885, encontrava-se em precário estado de conservação, classificado como de 2ª Classe (SOUZA, 1885). Já no início do século XX o forte encontrava-se abandonado e em ruínas.
Ruínas do Forte do Buraco - 1906
Cartão postal de meados da década de 1930
As ruínas seguiram sem preservação e na década de 1950 encontrava-se assim:

Ruínas do Forte do Buraco - década de 1950
Em 1958 a Marinha do Brasil dinamitou e demoliu o forte, para a construção da Base do 3º Distrito Naval, tendo parte de suas pedras sido aproveitadas nas obras do prolongamento do porto do Recife. A base não chegou a ser construída e foi transferida para Natal (RN). Nas proximidades do monumento, a Marinha chegou a construir um dique seco que seria utilizado para o conserto de navios. A edificação não foi levada adiante e hoje serve de apoio para os pescadores da região. Desde então, o local foi abandonado, com o pouco que restou do velho forte.
"Infelizmente as ruínas da Fortaleza do Buraco já tiveram sua bem executada sentença de morte. Delas resta apenas uma como lápide melancólica dizendo: 'Aqui foi a Fortaleza do Buraco'. Foram essas ruínas sacrificadas às obras de expansão da Base Naval do Recife. Sacrifício parece que desnecessário. Inútil. Lastimável." (Gilberto Freyre, 1968)
No ano de 2000 o Conselho Deliberativo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o tombamento das ruínas da fortificação. A fortaleza tinha sido tombada pelo Governo Federal em 1938 e foi destombada na década de 50 por solicitação da Marinha do Brasil. O Iphan tem em seu seu poder as pedras de inscrição que ficavam no portão do Forte do Buraco. As peças, datadas de 1705, foram doadas à instituição em 1962 pelo 3º Distrito Naval.


Estado atual das ruínas do Forte do Buraco

Mesmo assim o descaso com as ruínas do velho forte é patente. O acesso ao local para visitação é difícil e cheio de lixo e entulho.

13 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Isto faz parte da nossa história. Brasileiros não preservam nem sua história. Que vergonha...

    ResponderExcluir
  3. Vergonha. Voce saberia dizer se existe um projeto para salva-lo?

    ResponderExcluir
  4. Resido no Rio de Janeiro desde 1967 mas já residi na Vila do SSCM e o Forte ficava bem em frente da nossa casa. Era só atravessar o Capibaribe em sua foz. É uma vergonha o que foi feito por nossa Marinha! Em nenhuma outra parte do mundo haveria aquela tomada de decisão. Lastimável!!!

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Rio Beberibe, Samuel. Que privilégio o seu!

    ResponderExcluir
  7. Rio Beberibe, Samuel. Que privilégio o seu!

    ResponderExcluir
  8. Ri Beberibe, Samuel. Que privilégio o seu!

    ResponderExcluir
  9. GOVERNO QUE NÃO CUIDA DO NOSSO PATRIMÔNIO, MUITO TRISTE!

    ResponderExcluir
  10. Muito triste isso... De fato algo lamentável! Marinha deveria ser responsabilizada.

    ResponderExcluir
  11. Um absurdo total a destruição desse forte! Meu Deus, quanta ignorância...

    ResponderExcluir
  12. No saliente central tinha forte na ilha na outra margem da boca so restou o da peninsula que era ruinas o sistema tuga iberico batavo de defesa era bem superior ao que sobrou so ver os mapas historicos sedes batavas tipo igreja sf

    ResponderExcluir